Por Karine Rizzardi
Eu era pequenininha quando eu brincava ao redor da casa do
meu avô. Ele era italiano e tinha uma cantina no final da rua que eu ia e vinha
uma série de vezes enquanto passava lá as minhas férias. O natal era marcado
por milhares de músicas italianas e os familiares fechavam à rua, para a
preparação daquele dia. Ainda sinto o cheiro do salame e da copa que ele fazia
no porão de sua casa e aquelas lembranças me remetem a um passado mágico e
alegre.
Em um desses feriados, escolhemos levar minhas filhas para
ver onde a mãe delas estava há algumas décadas atrás. O calor humano e alegria
continuavam as mesmas, mas o cenário havia mudado. Aquela cantina suntuosa foi
substituída por uma velha construção esquecida. O mato aparado por uma série de
vacas que desfilavam pelos montes, foi entregue ao ciclo natural da vida. A
casa que fazia barulho da madeira enquanto eu andava e cheirava bolacha caseira
e macarrão feito com ovos caipira, foi trocada por um lar que agora cheira
limpeza. Até o caminho que eu fazia da casa até o final da rua ficou menor.
Antes eu tinha que andar tanto para chegar lá…
Eu cresci e agora tenho pernas mais longas e passos mais
rápidos. Por trás de um olhar analítico da vida, ainda morava dentro de mim
aquela menina que fazia fogos de artifício com bombril e enrolava num galho de árvore…
mas o que antes era com os primos, agora pôde fazer isso com minhas próprias
filhas.
A vida se renova, mas apesar de tantas mudanças, algumas
certezas me confirmam aquilo que sempre estou tentando me lembrar (e que a
correria do dia sempre insiste em me fazer esquecer).
Tudo na vida tem um ciclo e todo brilho do ser humano
também. Hoje poderemos estar no melhor lugar e fazendo as coisas mais notáveis,
mas tudo isso fará parte de um passado daqui a algumas décadas. Todo seu
desgaste emocional para construir uma casa ou decorar um apartamento ficará
obsoleto, assim como ficou a casa da minha vó. Todos os homens que se
destacavam daquela cidade, agora eram idosos sentados na varanda. Isso,
contudo, não deve ser motivo de tristeza, mas sim de consciência com as
próprias escolhas que fazemos no presente.
Em poucos anos o que restará é o valor que o seu nome
carrega e é nessa hora que você saberá se sua imagem está associada ao sinônimo
de “honra” ou não. Está aí a diferença. Se durante sua vida, você se concentrar
em sucesso, fama e poder, é certo que a depressão chegará junto com a velhice,
mas se seu foco está em ter seu nome associado a atitudes de “honra”, sua
velhice ainda será marcada por atitudes nobres que ainda darão frutos. Uma
pessoa preocupada com sua honra evita erros e se desvia de caminhos enganosos.
Ela pode sentir o desejo de agir erroneamente, mas sua própria consciência o
corrige.
Por esta razão, acho que vale fazer menção de um texto feito
por Regina Brett, uma senhora de 90 anos de idade que escolheu celebrar sua
velhice, escrevendo sobre as 45 lições que a vida lhe ensinou. Entre as lições
principais ditas por ela, algumas me chamam mais atenção: “Seu trabalho não
cuidará de você quando você ficar doente, mas seus familiares cuidarão.
Permaneça em contato” e “Suas crianças tem apenas uma infância” e “Vale a pena
se empenhar pelo seu cônjuge”.
Você pode entender isso antes dos 90 anos! Faça-o antes do
cenário de sua vida mudar.
A autora é psicóloga especialista de casais e família