Quem demonizou “Salve Jorge” assiste “Amor à Vida”? Ou: a
mistificação religiosa é menos absurda que a degradação de valores morais.
Entre outras coisas, “Salve Jorge” havia sido consagrada ao demônio Ogum. Mas,
“Amor à Vida”, expressa claramente a militância de um autor declarado gay.
Alguém perguntará: “O que a ficção tem a ver com a vida?” É evidente que nada,
salvo por um aspecto: o uso da ficção para influenciar em costumes morais. Sim,
pois a ficção pode muito bem ser usada para a promoção de valores — ou
desvalor, depende dos olhos de quem lê — capazes de influenciar na vida.
Entenderam? Walcyr usa da ficção para transmitir dados
questionáveis, levantar questões de conceito duvidoso e desvalorizar os ditos
conceitos tradicionais promovendo as bandeiras progressistas. Pode me chamar de
conservador. Não me importo! Já foi o tempo que me importava com o que pensam
ou deixam de pensar a meu respeito. O contrário, nestes dias, descobri que meus
valores estão virando raridade. Respeito à crítica, a maioria das pessoas não,
mas todos podem beneficiar-se dela. Sou da opinião que a critica deve ser feita
com sabedoria e recebida com humildade. O que falta para Walcyr é aprender a
valorizar a critica, não recusá-la, mas considerá-la um bem e manter-se calado.
Colocar estas sugestões em prática o ajudará a escrever suas novelas sem
militância, sem abordagem corporativa, sem uma linguagem tendenciosa.
Cabe uma pergunta, até óbvia demais: qual o sentido de
reunir tantas microcausas em uma ficção? Reitero: fazer militância. Ou: a
linguagem anticristã e a abordagem tendenciosa dos temas morais são apenas uma
triste coincidência? Não estou falando apenas do episódio sobre aborto. Aquele
que foi tão comentado, do médico muçulmano que se recusou a atender uma
“pecadora” que fez aborto ilegal. E do médico mais velho usado para transmitir
dados mentirosos: “Infelizmente, essa é uma das principais causas da morte de
mulheres no Brasil”. Mentira! O número de mortes maternas no Brasil é menos de
2 mil por ano e o aborto corresponde a 5% dessas mortes. Não chega a 100. E da
enfermeira judia que acusou as mulheres ricas de fazer aborto em segurança. Toda
aquela pilhéria, que me fez rir pra não chorar.
“Amor à vida” vai mais fundo. Tem a enfermeira virgem que
tenta de todas as formas perder a virgindade – nem que seja com um entregador
de pizza. Perséfone está obcecada em se livrar do doloroso calvário que a vida
lhe impôs: ter nascido virgem. Uma clara alusão à desvalorização do conceito
cristão de que a relação sexual institui um laço entre homem e mulher que deve
ser reconhecido pela condição única do casamento. Não é através de qualquer
encontro casual que as moças devem buscar a perda do estado de pureza em que se
encontram, mas através de uma relação amorosa, ao constituir família, ao firmar
um relacionamento estável perante a lei.
Os traumas da forma como a novela apresenta a busca pela
perda da virgindade de Perséfone seriam incalculáveis na vida real. Talvez o
objetivo do autor seja outro, mas o que me parece é que ele tenta apresentar o
sexo feminino como um objeto. Walcyr também pode estar dizendo que o trauma da
personagem esteja ligado a uma dura criação, que forçava a moça a seguir
preceitos religiosos. Ou ainda, que a personagem poderá morrer virgem se
esperar pela pessoa certa. Tolice! Isso me embrulha o estomago!
Fico com vergonha de assistir as cenas que se seguem em
“Amor à Vida”. Tem o médico preso por bigamia, após ter casado com duas
mulheres ao mesmo tempo, enquanto um casal que se pega em qualquer lugar –
foram flagrados em situação constrangedora no hospital que trabalham – comenta:
“Todo mundo, pegando todo mundo e ele sendo preso por bigamia” (se a fala não
for essa, é algo neste sentido). Enquanto isso aquela evangélica inconveniente
que trabalha na recepção do hospital San Magno dispara: “segundo a Bíblia a
bigamia é pecado, vai contra a vontade de Cristo” – tudo em um tom irônico é
claro.
Tem o diretor do hospital que obriga seu filho, o vilão
assumidamente gay, a manter-se casado para não envergonhá-lo. Enquanto ele
mantem uma relação extraconjugal. É demais para a minha inteligência! O autor
não esconde o objetivo de desconstruir valores ditos tradicionais,
ridicularizando a forma de viver da maioria, interferindo nas formas de família
ditas tradicionais para impor seus ideais.
Eu não sei, ou sei, por que existe um interesse tão evidente
da mídia em manipular informações e impor valores através da fixação psíquica
de que todas as formas de família são corretas, menos o conceito de família
existente na maioria dos lares. Os valores tidos como tradicionais são
ridicularizados em horário nobre. A novela apresenta uma clara linguagem
manipuladora, impondo temas polêmicos, promovendo a chacina de fetos,
ridicularizando os valores morais e impondo uma ideologia de militância da
minoria.
A militância do autor continua. Tem uma dupla de gays que
quer ter um filho e como não conseguiram nenhuma barriga de aluguel que se
enquadre no conceito moral que eles acreditam – se é que existe algum moralismo
nisto – receberam a solidariedade de uma amiga para ser, não sei se existe, mas
chamaram de “barriga solidária”. Como a inseminação artificial não dá certo,
mesmo após várias tentativas, um deles resolve transar com a moça. Aí ela engravida.
A ideia é transmitir o “lado bacana” de ter uma família diferenciada, se é que
podemos chamar de família. Ou ainda, impor a opinião do autor, ou de uma
militância de minoria que tenta a todo custo ridicularizar a maioria. Comigo
não funciona! Não me pegam nesta e em nenhuma outra.
A novela transforma o repúdio ao aborto como algo patético e
inaceitável, mesmo que a maioria da população condene a prática. Entendo. A
novela que promove uma libertinagem sexual não teria outra opção a não ser
apresentar argumentos favoráveis ao aborto, mesmo que para isso levante dados
escandalosamente mentirosos. Pois bem, vamos além! Que família é esta
apresentada pela Globo em horário nobre que trás um par de homens querendo
engravidar uma amiga e a mesma disposta a transar com um deles e posteriormente
entregar a criança para ser cuidada por eles? Se a emissora queria se superar,
conseguiu.
O folhetim apresenta a mulher como um ser indigno. Apresenta
a religião como um retrocesso. E segue a mesma linha de deboche ao criar um
personagem evangélico sempre estapafúrdio e grosseiramente humilhado. Além de
fazer clara apologia à prática homossexual e a cultura gay de desvalorização da
família e ao tentar descontextualizar a imagem da mulher ao apresentar
estúpidos argumentos sobre a sexualidade e o comportamento feminino.
Sigo para o fim
Pode não parecer, eu sei, mas o que se vê em “Amor à Vida” é
uma manifestação absurda de uma militância agressiva, imposta até mesmo através
do entretenimento familiar. Não existe argumento contrário, apenas a promoção
dos valores — que, reitero, dramatiza o esforço da militância gay que tenta
impor suas ideologias. Chamar de preconceituosa a opinião contrária à prática
homossexual só teria cabimento se esta opinião fosse imposta, como neste caso.
Ou ainda, tentar levantar dados falsos para convencer a maioria de que liberar
o aborto é o melhor para a saúde da mulher é grosseiramente criminoso. Cabe a
pergunta final: se “Salve Jorge” foi consagrada a Ogum. A quem Walcyr Carrasco
consagrou “Amor à Vida”?